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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Como se constrói um mito fraudulento

Por Maurício Cazagrande
Mesmo distantes dos fatos, grandes versões da história política podem chegar à sociedade como se fossem verdades absolutas. Com o apoio e conivência de parlamentares, setores de imprensa, e parcela da sociedade civil, mais um mito está sendo criado à frente de nossos olhos: a presidente Dilma Rousseff seria uma autoridade pública implacável contra a corrupção. Mas esse equívoco com relação ao papel de Dilma Rousseff no comando do governo foi destrinchado e demolido no artigo do cientista político Marco Antonio Villa, publicado no jornal O Globo.
De acordo com Villa, esse mito da faxina se dá sobre os escombros de uma grande inverdade, de que a presidente Dilma Rousseff seria uma grande administradora. Com tantos atrasos nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), auxiliares envolvidos em irregularidades, intrigas entre membros do primeiro escalão, infraestrutura em frangalhos, é difícil manter a tese de que Dilma seja uma gestora excepcional.
Por isso, para deixar para trás um fracasso, foi um presente para o governo a ideia imaginária de Dilma como a faxineira que afasta todos os envolvidos com os mal-feitos. Para se formar essa historinha, no mínimo, é preciso esquecer que a maioria dos escândalos surgiu na imprensa, o governo tentou poupar os envolvidos por um período de tempo e sempre houve desqualificação das denúncias.
Talvez caiba lembrar que o titubeio do Brasil com relação aos movimentos contra as ditaduras na Líbia e na Síria também destruíram uma promissora imagem de Dilma Rousseff como apoiadora dos direitos humanos. Além disso, lembra Villa, a tal “faxina” ocorre sem que se saiba de apuração séria das denúncias em nenhum dos órgãos cabíveis. Simplesmente troca-se o titular da pasta sob suspeita e demitem os auxiliares sobre os quais pesaram as desconfianças. Não se fala, por exemplo, de recuperação de dinheiro roubado ou desviado. “As denúncias de desvio de milhões de reais não foram apuradas, sequer internamente, em um processo administrativo. Muito menos na esfera judicial”, afirma Villa.
Os fatos mostram que Dilma Rousseff, apesar de pousar de faxineira, é “herdeira e partícipe ativa do presidencialismo de transação, a presidente acabou prisioneira deste sistema” conclui o pensador. No fundo, a presidente não sabe muito bem o que fazer, pois nenhuma grande reforma que acabasse de fato com o foco da corrupção – a maneira como o poder é repartido no Brasil – está em pauta.

A rotina de Dilma tem sido tentar diminuir o impacto das denúncias de corrupção logo que essas são veiculadas. Apenas quando quase nada mais pode ser feito, caem os envolvidos.A grande sorte do governo é que Dilma conseguiu se passar, junto à opinião pública, como figura ativa no processo. Não é o caso.
“Em meio ao desgaste, o governo foi obrigado a substituir o figurino da presidente: trocou a fantasia, já gasta, de eficaz gestora, por outra, novinha em folha, a de moralizadora da administração pública, que vem acompanhada de uma vassoura. E, por incrível que pareça, já está colhendo os primeiros frutos. Todos estão elogiando a “faxina”, escreveu Villa.
Não importa, para aqueles que são cúmplices dessa imagem de Dilma, que as estruturas de corrupção estejam intocadas. O que interessa é que o rótulo “colou”. Dane-se a realidade se essa não for conveniente. De acordo com Villa, é fantasiosa a versão de que ajudar Dilma nesse momento é afastá-la do ex-presidente – o verdadeiro responsável por tal sistema caótico e intrinsecamente corrupto.
Parlamentares, quando abrem mão de suas prerrogativas e deixam de assinar uma CPI da Corrupção em nome do tal apoio à faxina inexistente apenas fazem o jogo do governo e seus apoiadores. Deixam tudo como está.

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